A poesia na sala de aula

A poesia é a fala do coração. Use-a para aproximar-se do seu aluno e ajudá-lo a desenvolver o gosto e o prazer pela leitura.
A conquista nasce de um carinho, de um toque, de uma palavra certa na hora certa.
Não desperdice oportunidades. Se for preciso, crie, invente... Deixe a imaginação voar livremente.


"Sei que meu trabalho é uma gota no oceano, mas sem ele, o oceano seria menor ". Madre Teresa de Calcutá.

“Educar é como dirigir em uma estrada cheia de curvas, exige atenção redobrada, pois, à medida que avançamos, um pouco mais nos é revelado". Silvia Trevisani

"Toda mudança começa primeiro em nós".

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Onde Ele mora?

Hoje, Joana está muito preocupada com Ana Maria, sua filha mais nova. Das três filhas, Ana Maria é a mais quieta, mas também a mais interessada em questionar sobre coisas, às vezes até embaraçosas. Certa feita questionou sobre os anjos, o porquê das asas se ninguém via eles passarem voando. Nessa ocasião Joana lhe dissera que os anjos eram seres invisíveis, o que de pronto Ana Maria comentou:
- Ah! Então é por isso que quando cai um avião e ninguém consegue saber a causa, só pode ser um anjo desorientado que acabou trombando com ele. Lógico, como anjo é invisível, o piloto não percebe, nem mesmo os radares captam, a caixa preta também não registra nada, porque nem deu tempo do piloto e co-piloto conversarem sobre o que estava acontecendo. Sabe mãe, não fala para ninguém isso, porque senão os anjos estão fritos, ninguém mais vai querer saber deles.
Nesse dia, Joana só balançou a cabeça e deu risada. Mas hoje Joana está encafifada com a atitude de Ana Maria. A menina está sentada num banquinho no fundo do quintal, o olhar perdido num ponto qualquer, e isso já faz um bom tempo; tanto que vira e mexe Joana chega até o vitrô da cozinha e espia para ver se ela ainda está lá. E lá está Ana Maria do mesmo jeito, pensativa demais.
Joana não aguenta, afinal uma criança de apenas oito anos não pode ficar desse jeito, ainda mais numa manhã tão gostosa como essa; o sol iluminando tudo, o céu tão azul, uma brisa suave balança as folhas do pequeno pé de Manacá que exala um doce perfume. Tudo convida para folguedos. Mas Ana Maria está tão absorta em seus pensamentos, que não consegue perceber nada ao seu redor.
Joana chega até a porta da cozinha e diz: – Ô, filha! Porque você está tão quieta desse jeito, parece que está no mundo da lua. Vem, entra e toma esse suco de laranja que eu acabo de fazer e que você gosta tanto.
- Já vou, mãe! Deixa só eu resolver uma coisa aqui na minha cabeça, que está me incomodando.
- Tá bom! Mas não demora, viu? Senão sua irmã Catarina vem e toma a sua parte. Você sabe como ela é gulosa.
Joana entra, mas fica no vitrô espiando preocupada.
Passado alguns minutos Joana percebe que Ana Maria se movimenta, e trata de disfarçar para que a menina não perceba sua curiosidade.
Ana Maria entra e pede logo o suco de laranja. Toma quase de um fôlego só, coisa que Joana a repreende.
Limpando a boca com as costas da mão, Ana Maria fala: – Mãe…
Mas é interrompida por Joana que mais uma vez chama a sua atenção…
- Você não sabe que e muito feio limpar a boca desse jeito? Pega um guardanapo de papel, menina!
- Tá bom, tá bom! Mas agora já foi e eu quero te perguntar uma coisa.
Joana balança a cabeça em sinal de desaprovamento, mas acaba deixando que a menina pergunte, afinal está curiosa para saber o motivo de tanto tempo sentada naquele banquinho.
Sabe mãe, eu queria saber se a senhora sabe onde Deus mora. A senhora sabe?
- Lógico que eu sei, assim como todo mundo sabe. Deus mora no céu.
- Engano seu, Deus não mora no céu…
- Ana Maria, eu aqui preocupada e você vem com essa agora?
- Mãe, Deus sabe de tudo, não é isso que a senhora diz? Ele sabe quando estamos certos, sabe quando estamos errados, sabe quando estamos tristes, fica feliz quando estamos felizes, isso quer dizer que Ele está sempre presente, e isso é com tudo que Ele criou. Então mãe, eu pensei, pensei… E cheguei a seguinte conclusão:- Deus não mora no céu, Ele mora dentro de todos nós, dentro de todas as coisas que Ele criou. Ali sentada no banquinho, eu vi Deus passar quando um passarinho voou por cima da nossa casa, eu vi Deus dançar quando as folhas do Manacá balançaram, quando o Bem-te-vi cantou, era Deus cantando, e quando a senhora me chamou para tomar o suco de laranja, era Deus dentro da senhora que estava preocupado comigo. Sabe mãe, não vou mais ter medo de dormir por causa do escuro, porque agora eu sei que Deus vai estar dormindo comigo. E agora vou brincar, porque Deus está querendo brincar comigo. Tchau mãe!
Ana Maria sai correndo e chama por suas irmãs.
Lágrimas rolam pelas faces de Joana que nesse momento diz baixinho: “Obrigada Senhor, por morar conosco”.


de Eneida Tagliolatto - escritora e artista plástica - Campinas SP.
Imagem: http://construindosentidos.blogspot.com/2010_09_01_archive.html

Nenhum comentário: